quarta-feira, 22 de outubro de 2008

AÍ VÊM ELAS... ABRE-AS DEPRESSA...



França, 12 de Novembro de 1916

Meu amor,
Nem sabes o quanto fiquei contente quando recebi os teus bolinhos de manteiga, os meus preferidos. Sei que nem imaginas o que tenho passado aqui e o quanto é doloroso estar longe de ti. O que ainda me consegue animar e me dá alegria de viver são as tuas cartas e a esperança de voltar a ver-te. Esta guerra maldita está a matar-me aos poucos, todos os dias morrem milhares de pessoas e, entre elas alguns dos meus melhores amigos já foram, sinto falta dos teus carinhos pois, aqui, estou completamente desnorteado. Não há higiene nenhuma, as roupas são lavadas a vapor por causa dos piolhos que nos atacam constantemente e que nem com o vapor intenso desaparecem. Mais uma vez te digo meu amor, estou completamente desorientado com vontade de fugir para os teus braços, mas sei que se isso acontecer serei condenado à morte. Quando estou nas trincheiras, a atacar o inimigo, sinto que a qualquer instante poderei morrer e sem nunca mais te poder tocar, abraçar e beijar. Dia após dia, a atacar o inimigo sem saber o que está a acontecer do outro lado, sem saber se já a vencemos ou ainda passaremos anos nesta trincheira. Nos bunkers choro imenso, lamento-me com os meus colegas e percebo o quanto te amo e quero estar contigo! Até das nossas discussões sinto saudades. Oh meu Deus porque sois tão injusto! A época natalícia aproxima-se e eu com esta incerteza que me corrói: se estarei contigo ou não?! Mas quero que saibas que, por mais longe que esteja, tu estarás sempre no meu coração... Espero poder responder à tua próxima carta pois aqui nunca sabemos o dia de amanhã.


Gil Santos

PS: Envia-me, se puderes, sabão e mais alguns dos teus maravilhosos doces.
Amo-te imenso.

França, 15 de Setembro de 1917

Querida mãe:

Estou cheio de saudades vossas, nem sabem como eu me tenho sentido nestes últimos dias, já cá estou há 4 meses e isto parece-se quase com um inferno...
Quando vim para aqui pensava que ia viver uma grande aventura, iria ser um grande herói por poder vestir esta farda...mas foi tudo uma grande ilusão...agora que aqui estou, estou preso, só penso na hora de tudo isto acabar e poder sair.
Há imensa falta de higiene; a comida é mínima e, por vezes, passamos bastante fome...
Às vezes estou doente mas, mesmo assim, tenho de estar em luta contra o inimigo...Não sei bem o que dizer...
Quando tenho tempo, (que é mínimo), sento-me com os meus camaradas à noite e, todos juntos, falamos sobre os maravilhosos momentos que passámos com as nossas famílias.
Enfim, isto é um pesadelo enorme e estou desejoso de estar contigo e de ver o resto da família.
Nem sei bem porque para aqui vim...
Já nem consigo pensar em mais nada a não ser em guerras, inimigos, espingardas, bombas, mortes, amigos, feridos, fome (por falar nisso, tenho imensas saudades dos teus cozinhados mãe...).
E o pai? Como tem passado? ...
Bem por agora é tudo.
Com muitas saudades me despeço de ti...
Muitos beijinhos!

André Branquinho

Vale de Lys, 23 de Dezembro de 1916

Queridos pais,
A vida aqui nas trincheiras não vai nada bem, come-se muito mal e por vezes não se come, foi uma ideia estúpida vir para aqui e nem sei porque estou eu nesta guerra, já arranjei amigos aqui mas, muitos já se tentaram suicidar, pela primeira vez, na vida toquei numa arma e numa granada. Aqui só utilizamos o telefone uma vez por ano para ligar para as famílias, esta guerra parece que nunca mais acaba.
Pai e mãe gostaria, de estar agora convosco para passar o Natal porque aqui nem natal deve existir.
Tenho muitas saudades vossas e espero não morrer nesta guerra, para voltar para vocês.

Adoro-vos.
Tiago

PS: Dá beijinhos grandes aos meus irmãos por mim…

Terra de Ninguém, 9 de Novembro de 1916

Caros familiares,

Estou a escrever-vos porque poderá ser a última vez que vos escrevo. A vida nos bunkers é muito má. Já quase não temos comida e água, nem se fala. Quando saímos para fora, só há tiros de metralhadoras, se levantamos a cabeça da trincheira e com sorte não levarmos um tiro, só vemos crateras e mortos, por causa das granadas lançadas por canhões. Eu queria muito visitar-vos, como os outros o fazem mas como estou à frente no comando, não posso. Voltarei a escrever-vos, se com sorte, já não tiver sido morto.
Beijinhos e abraços
do Rúben

2 comentários:

Anónimo disse...

gostei muito da carta da marisa do 9A, pois estava muito bem feita e esprimiu muito semtimento...
Até arrepiei ao lê-la.

Anónimo disse...

Ché tá fixe mas curta devias aumentar o texto