quinta-feira, 23 de outubro de 2008

CONTINUAM A CHEGAR-NOS CARTAS DAS FRENTES DE COMBATE...

Rússia, 14 de Novembro de 1915

Querida Manuela,
Se estás a ler esta carta significa que ainda estou vivo, que não tive a mesma sorte que alguns companheiros meus. Só consigo sobreviver porque estou confiante em te ver outra vez.
Desde a ceia até à pernoita com honrados companheiros a serem devorados por ratazanas, que têm melhor aspecto que aquilo que nos dão como comida.
Onde estou localizado nem posso considerar o meu bem-estar pois o meu colchão é de lama misturado com cadáveres, e os meus lençóis são os seus uniformes.
Neste confronto não vejo vitória para nenhuma das vertentes, existem baixas materiais e humanas irremediáveis pelo que as duas frentes disparam com tudo o que têm até acabar as munições, após isto, segue-se a estupidez do rescaldo em que uma vertente dirige os seus soldados para contagem de baixas de outra vertente e neste momento começa o banho de sangue, e tudo o que podemos fazer é combater. Enquanto os ditos senhores da guerra, verdadeira alma do combate, se encontram noutra batalha importantíssima em que as suas armas, faca e garfo de prata, assassinam pedaços de carne assada e o sangue dessa batalha é derramado pelas uvas pisadas para formar um óptimo vinho.
Esta batalha não tem fim, espero voltar a ver-te em breve...
Beijos saudosos,

Guilherme Sá

França, 20 de Abril de 1917

Querida mãe,

Espero que estejam todos bem.
Eu estou deserto que esta guerra acabe ou que me mandem para casa são e salvo.
Todos os dias morrem companheiros meus, todos os dias são retirados das trincheiras feridos em muito mau estado. Tanta gente a sofrer por terem morto o herdeiro ao trono Austro-Húngaro.
Aqui falta tudo. A alimentação é horrível, só comemos sopas de legumes, ainda por cima sem gosto. Os legumes são tão rijos que parecem arame farpado.
Sem falar na higiene. Há quem tenha piolhos. Quem tenha sido mordido por carraças, ficando depois doente. As enfermeiras ficam com medo de cuidarem de nós por causa dos piolhos.
Mas tenho a certeza que tudo irá acabar bem para mim e que voltarei brevemente para o pé de si. Tenho muitas saudades suas.
Reze por mim, assim como eu rezo por si.
Beijos do seu filho que a adora.

António Silva


França, 25 de Setembro de 1917

Querida Mãe,
Estou a mandar esta carta para vos informar que estou com muitas saudades vossas e que não sei se vou poder mandar outra carta porque muitos dos meus colegas estão a morrer e nunca sabemos quando chega a nossa hora.
Não estava à espera que a guerra das trincheiras fosse tão sangrenta, tem mortos e feridos por todo o lado. Os soldados aliados estão desesperados com a morte dos seus homens porque os adversários são muito destemidos, apesar de também morrerem muitos dos seus soldados.
Muitos beijos e saudades.
Do vosso amado filho,

Edson Patrick

França, 10 de Setembro de 1917


Queridos pais,
Espero que esteja tudo bem convosco…
Aproveitei a oportunidade, do inimigo ter cessado fogo, para vos poder escrever, pois, não sei quando voltarei a ter oportunidade para tal.
Isto, por aqui, está péssimo, parece que estamos no inferno.
Por vezes passamos noites e dias sem dormir, sem comer, nem beber, passamos muito mal, esta é a verdade.
Já morreu muita gente devido a esta guerra, infelizmente, já morreram muitos amigos meus verdadeiros, pessoas que vêm para aqui sem estarem, devidamente, treinadas para tal acontecimento.
Só espero voltar a poder escrever-vos novamente, pois nem sabem as saudades que eu tenho de casa, gostaria imenso que esta guerra acabasse e eu pudesse voltar para casa.
Assim me despeço de todos vós…

Beijos de carinho
saudades para todos,
Patrick



França, linha da frente, 17 de Junho de 1916

Querido pai,
Como tens passado?
Como sabes eu vim para a guerra, por livre e boa vontade, para te fazer uma homenagem e para me transformar num herói.
A vida aqui é muito diferente do que eu imaginava ser. Estou nas trincheiras, onde os combates podem dar-se a qualquer hora. Os locais a que me refiro são buracos escavados, chamados trincheiras. Pomos sacos de areia que nos deixam a salvo da mira do inimigo enquanto nós os atacamos de frente.
A terra-de-ninguém é o território que separa a nossa trincheira da trincheira dos inimigos, que não pertence a ninguém, apenas pertence às ratazanas.
Nestas trincheiras marcantes, ouvimos o som da morte, está distante e tão perto, à distância de uma bala que acaba com a vida de uma família perfeita.
O lança-chamas queima as mágoas com o calor do interior da terra e as metralhadoras distribuem tragédias.
Tornámo-nos escravos da guerra, nem homens livres nem máquinas. Apenas coisas!
A lama do campo de batalha arrasta-nos a vontade. Alguns morrem afogados, as nossas trincheiras ficaram destruídas e inundadas, cheias de lamas.
Por vezes sinto-me um verdadeiro patriota, quero levar o meu país a provar ao Mundo que não somos inferiores aos Alemães e,por isso, é obrigatório terminar esta guerra.
Mas quando há aqueles momentos de espera, eu fico a pensar que estou sozinho e ponho-me a escrever cartas para vocês. Não podia deixar de me lembrar de ti, da mãe e dos manos, claro! Quando íamos às vinhas da quinta, e as deliciosas comidas feitas pela mãe, porque a comida que fazem nos bunkers é horrível, (são os nossos próprios cavalos quando morrem e pão sem sal).
Despeço-me com muitas saudades vossas,
beijos à mãe e aos manos.

Paulo Sérgio Dias Duarte

1 comentário:

Anónimo disse...

ta fixe paulo