segunda-feira, 13 de outubro de 2008

FINALMENTE... AS CARTAS!!

França, 24 de Outubro de 1917

Para os meus familiares em Portugal


Cada dia que vai passando, vou pensando na maneira de chegar a casa são e salvo.
Não sei quando, não sei como, mas só penso em chegar a casa para vos ver a todos e aos amigos de quem tenho muitas saudades.
Sento-me sempre na trincheira com os meus companheiros de batalha e cada um de nós vai dizendo que quer voltar para a sua casa, perto da família que já não vê há algum tempo e que sentem muitas saudades dos pais, filhos, mulheres e amigos.
Cada dia vai passando muito lentamente… Um padre reza por nós, para irmos para o campo de batalha com Deus no coração, para pensarmos em coisas positivas, que nada nos acontecerá, que voltaremos sãos e salvos para casa para junto das nossas famílias.
Já passámos por duas fases da guerra - a guerra relâmpago e a das trincheiras. Passou-se de uma para a outra porque nós não conseguíamos avançar, nem os alemães. A Alemanha como não conseguia avançar sobre nós iniciou a guerra das trincheiras. As trincheiras são as nossas casas. Aí dormimos, combatemos, comemos e vigiamos.
A Rússia resolveu abandonar a guerra, porque estava a haver uma revolução no seu país. Muitos soldados foram mortos e perderam a fé nos seus chefes e nós ficámos sob pressão. Assim pensei… se a Rússia abandonou a sua posição, então qualquer país também o pode fazer. Comecei a sentir de novo a pressão… o medo… Voltei a pensar, de repente, como se estivesse a iniciar a guerra… de novo. Mas como os alemães atacavam os barcos americanos eles decidiram ajudarmos, pensei logo, vou salvar-me e vou para casa ver os meus familiares.
Esta guerra está a ter consequências horríveis. Já morreram imensos soldados, as terras estão todas destruídas e inundadas e alguns dos meus companheiros estão a ficar afectados psicologicamente. Ainda penso nos meus companheiros de guerra que foram mortos e penso que também eu poderia estar morto. Felizmente, ainda aqui estou!
Beijos para todos e espero que seja até breve,


Carlos Sany

2 comentários:

Anónimo disse...

Ficou muito realista! Até ia chorando!
Mariana (filha da prof. Helena Pereira)

Anónimo disse...

gostei muito da carta do sany ta muito bonita quase chorava