segunda-feira, 13 de outubro de 2008

França, 5 de Dezembro de 1917


Meu amor,

Nem sabes como te agradeço as bolachinhas que me mandaste. Nem sabes o que tenho passado aqui. É tão bom receber as tuas cartas e os teus mimos, mas a vida aqui não tem sido fácil. É uma guerra que vai acabando comigo aos poucos. A alimentação não é saudável, o nosso corpo não tem higiene, é dominado pelos piolhos, a nossa roupa é lavada a vapor e os piolhos não saem. Aqui só luto para sobreviver mas vejo os meus amigos a morrerem à minha frente… ai como é tão doloroso.
O meu dia-a-dia aqui nesta guerra é passado a sofrer com angústia e medo de morrer, as condições eu classifico-as desordenadas, nunca pensei passar por uma situação destas…. Tento fugir mas é inevitável há sempre quem me segure. Eu quando estou nas trincheiras a atacar o inimigo sinto que a morte está comigo a todo o momento e que a qualquer instante poderás abraçar-me. Passo horrores em afrontar os soldados nas trincheiras. Quando estou nos bunkers olho para as fotos que me mandaste, choro de saudades e imploro a Deus que me ponha do vosso lado. Quero muito poder abraçar-vos a todos, passearmos como antes. Morro de saudades de tudo o que nós fazíamos. Oh meu Deus que saudades!!
Como estará a vossa vida por ai agora que se aproxima o Natal, uma data em que eu não sei se estarei presente.
Se esta carta é a última não sei, não sei quando a minha próxima carta irá chegar, não sei também quanto tempo mais eu resistirei, não sei se a carta que acabarás de ler será a última.
Tenho tantas incertezas mas eu luto para um dia quando tudo acabar estar a teu lado e dos nossos filhos. Pode ser que demore mas vocês dão-me muita força.
Beijos e abraços de quem te ama demais,
Beijinhos filhotes, o pai ama-vos imenso.

Pedro Walters


PS: Responde e dá-me notícias boas. Amo-te.

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