quinta-feira, 23 de outubro de 2008


Vaux, 15 de Dezembro de 1917


Querida Irene:

Então como tens passado? E os miúdos como estão? Devem estar enormes. Espero que se encontrem todos bem. Já passaram 6 meses e ainda me encontro neste sítio horrível a lutar pelo nosso país, mas a vida é assim, há que lutar pelos nossos direitos. Aqui vê-se de tudo mas o pior é ver um camarada nosso a morrer como eu vi ontem. Eu e esse camarada éramos amigos e tínhamos estado outro dia a falar de terras porque ele também gostava muito de ter a sua horta e cuidar dela. Eu, também muitas vezes, já pensei em desistir: como por exemplo pôr-me em cima dos sacos de areia, onde nós nos abrigamos, para levar um tiro em qualquer sítio e voltar para o meu país. Mas depois penso em vocês e não o faço.
Então, como vão as coisas por aí? As nossas hortas? Deves precisar da minha ajuda mas, de certeza que conseguiste resolver essa situação….tu encontras sempre forma de resolver os problemas. Tenho tantas saudades tuas, dos miúdos, enfim… tenho saudades de tudo, do meu país, dos nossos passeios de domingo em família em que vestíamos a nossa melhor roupa e íamos passear. Sinto muito a falta da tua comida. Aqui as refeições são muito fracas. Lembras-te como era um pouco gordo? Agora estou muito magro. Ao longo destes 6 meses não tenho dormido bem nem comido bem. Isto é um inferno. Está a chegar o Natal e eu não estou aí para comer os teus petiscos, aqueles que só tu fazes bem. Não vou poder estar à frente da nossa fogueira, a aquecer-nos um ao outro e, quando chegasse a meia-noite, dava um beijinho a cada um de vocês. Mas, para ser sincero, não sei se chegarei aí algum dia porque aqui morre muita gente. Hoje um camarada meu e amanhã posso ser mesmo eu, mas só Deus sabe o que acontecerá. Como estamos em Dezembro nem imaginas o frio que passamos aqui todos os dias e as fortes chuvas que caem provocam vários estragos por isso temos sempre que fazer de novo todos os dias barreiras de sacos de areia enormes para nos protegermos.
Manda um abraço aos meus amigos aí da aldeia. Um dia vou voltar para jogar às cartas com eles como jogava. Chega a hora de me despedir. Não sei se esta é a última carta ou se escreverei mais alguma vez mas espero escrever dentro em breve. Um beijinho para os nossos filhos e para ti que tens suportado a minha ausência ai na terra.

O teu eterno,
António Ferreira de Sousa

França, 10 de Dezembro de 1915

Querida mãe:

Espero que esteja tudo bem por aí.
Não sabes o quanto estou a sofrer no meio disto tudo.
Trabalhamos noites inteiras nas trincheiras, agora pergunto-me se vale a pena estas noites todas, horas de suor, quando vejo os meus amigos a sofrer.
Estou farto de passar as noites em branco e, ainda por cima, mal comemos, ou seja não temos energia para trabalhar.
Estamos fracos!!
Dormir? Muito pouco. Sonhos? Já nem me lembro o que é isso. Pesadelos? Muitos, tenho-os todos os dias pois adormeço e acordo a ouvir as metralhadoras, o barulho dos carros blindados...
Agora pergunto-me: " Nós fazemos isto tudo pela nossa terra. E eles o que estão a fazer por nós, se nem sequer um prato de comida nos dão?"
Esta é a pergunta feita por todos os soldados que aqui estão e espero respondê-la em breve assim que chegar a casa.
Estou cheio de saudades vossas, espero que os manos também estejam bem.
Por favor, tenta responder à minha correspondência.
Beijos do filho que te ama,

Lloyd Polite

França, 17 de Maio de1915


Querida irmã:
As coisas aqui estão, cada vez, piores.
Comida? Apenas pão.
Espero que vocês estejam melhores,
Porque aqui vive-se um clima de grande tensão.
Guerra:
A palavra mais ouvida.
Zelemos pela nossa terra
Pois essa é a nossa vida.
Numa nova fase da guerra,
Acabámos de entrar
Porque é pela nossa terra,
Que estamos a lutar.
Construímos trincheiras
Para mantermos a posição.
Trabalhamos nelas, noites inteiras
Pois essas eram a nossa salvação.
Cheias de corpos,
Cheias de lama
Corpos esses,
Que uma pessoa mais ama.
Novos armamentos,
Novas comunicações
Também recebemos gás
Nas nossas instalações.
Armas essas,
Que nos vieram a afectar,
Pois muitos franceses e alemães
Conseguiram matar.
Á nossa aconchegada casa
Espero chegar,
Pois ao pé da nossa família
Eu quero estar.
Sem poder escrever mais,
Só espero que respondas à minha correspondência.
Trata bem de ti e do resto da nossa família.
Beijos do teu irmão que te adora e que espera ver-te em breve!!!
Johnson Pierre



Val de Lys, 14 de Setembro de 1914


Querida Ana
Hoje encontro-me num dia não, pois cada dia que passa morre mais um irmão e a esperança de voltar para casa diminui. Ontem deparei-me com uma situação um tanto constrangedora: de longe vi um irmão ferido nas trincheiras, mas como nós estávamos cercados, infelizmente, não pudemos fazer nada porque as trincheiras ficam inundadas de água e de lama. A comida aqui não chega para todos, passo dias sem comer porque, muitas vezes, prefiro tirar da minha boca para dar a um irmão que necessita mais.
Despeço-me porque já escurece e a minha visão falha.
Beijos e abraços para os nossos filhos,
muitas saudades,

António Vieira


3 comentários:

Anónimo disse...

Paula Dias .. muit0 fixe ..
l000000l

Anónimo disse...

eu gostei muito da carta do Wiliam,
Esta muito criativa...

Anónimo disse...

Achei interessante a carta do Will.
Ta mesmo fixe.